Jantar de despedida

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Eu te liguei. Dessa vez não quis esperar o cavalheirismo de você me procurar. E você me atendeu com aquela voz cansada de quem acabara de sair de uma partida de futebol. Estranho, não me recordo de ter lhe chamado para nada depois do futebol e você aceitar. Marcamos no restaurante do primeiro encontro e não muito tarde, porque eu tinha aula no dia seguinte.

Cheguei 15 minutinhos atrasada, fiquei na dúvida entre um peep toe e uma ankle boot. Ambos combinavam com a roupa. Nem precisa ligar para saber que mesa você tinha escolhido. Era a mesma. Sempre aquela embaixo do ar condicionado e dois sucos de laranja. “Nossa, você tá linda. O que você vez no cabelo?”. Sim, você sabia me agradar.

O meso prato da primeira vez que estivemos ali. Faculdade, família, escola, minha roupa, seu cachorro que estava doente. Papo vai, papo vem e acabamos entrando no assunto do nosso namoro. A retrospectiva que fizemos daqueles oito meses, foi bem mais detalhada que aquela que a Globo faz todo final de ano. Minha risada escandalosa chamou a atenção de todo o restaurante. Ah, eu amo o petit gateau daqui. E amo ainda mais dividí-lo com você.

E na metade da sobremesa, deixei escapulir: “já não dá mais”. Você tinha certeza que eu não estava falando do petit gateau. Era sobre nós dois. Concordávamos, tínhamos certeza que seria desgastante dali pra frente. Viveríamos a partir daí caminhos individuais. Ei, você passou para a faculdade dos seus sonhos. Não havia espaço para uma crise de choro depois dos mais maravilhosos oito meses das nossas vidas.

Pagou a conta e trouxe balinha para mim. Você nunca deixou de ser cavalheiro. Nunca. “Eu te levo em casa”. Não haveria motivo para recusar, eu nunca recusei, nem após nossas discussões. Chegamos no portão. “Adeus?”, você me perguntou de longe. E eu disse tchau. Demos um passo, apenas um passo e nos beijamos da forma mais suave, doce e apaixonada de todos os tempos,

Para não restar dúvida, você afirmou: “Terminamos. Nós precisávamos tomar essa decisão“. Respondi balançando a cabeça com o sim mais confuso que já pude dizer. Acabou.

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